Wilson Witzel (PSC) foi eleito
governador do Rio de Janeiro com discurso apoiado no combate à corrupção e ao
tráfico de drogas. Em entrevista, ele
afirmou irá autorizar policiais a matarem quem portar fuzis, além de não
responsabiliza-los “em hipótese alguma”.
Segundo ele, a autorização
para o “abate”, a ser oficializada, não aumentará a letalidade no Estado –
hoje, são cerca de 500 registros por mês, ou 16 assassinatos por dia. Para
Witzel, a medida reduzirá o número “de bandidos de fuzil em circulação”.
“O correto é matar o bandido
que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e…
fogo! Para não ter erro”, afirmou o governador eleito, que é ex-juiz federal,
nascido em Jundiaí (SP), e novato na política.
Ele ainda chamou os
antecessores no governo do Estado do Rio de “constelação de pilantras” e disse
que vai pedir à futura gestão Jair Bolsonaro (PSL), um aliado, a permanência
das Forças Armadas de janeiro até outubro de 2019, dez meses além do prazo do
decreto da intervenção federal na segurança. A seguir, os principais trechos da
entrevista:
O sr. se apresenta como uma
novidade. Já se sente político?
Eu estou governador durante
quatro anos. Se o povo avaliar bem, a gente fica mais quatro. Acho a reeleição
saudável. Não concordo com o presidente Bolsonaro nessa. Ele vai acabar ficando
oito anos também.
Além da segurança, qual será
seu principal foco?
O principal é gerar emprego,
aumentar o PIB da agricultura, a educação, a saúde, diversificar o turismo.
Espera que o Rio seja
privilegiado na renegociação do Regime de Recuperação Fiscal?
O presidente tem de ouvir
todos os governadores e arrumar uma solução. É uma discussão que tem de ser travada.
O presidente é “paulistoca” (paulista e carioca) e o governador também. Mas a
preocupação dele é nacional. Quero tirar o Rio das páginas policiais para
colocar nas páginas positivas. Hoje, o turismo no Rio está com crescimento
negativo. O chinês olha para o Rio e pensa só em praia, mulher de bunda de
fora.
Os servidores podem confiar
que não terão mais salários atrasados?
Nosso problema não é de
despesa, é de receita. Tudo o que o Estado tem de fazer é melhorar o desempenho
de sua economia. Vem perdendo essa capacidade em razão de escândalos, por falta
de interesse das empresas. O ICMS é alto, as isenções foram feitas de forma
seletiva. Houve receio do empresariado. O (atual governador, Luiz Fernando)
Pezão ficou marcado por causa dos governos anteriores. Perdeu credibilidade. Eu
não tenho relação com eles. Isso já é uma sinalização positiva para os
investidores. Não sou ladrão, minha vida mostra. Os últimos governadores, só
Jesus na causa… Foi uma constelação de pilantras.
O senhor defende a excludente
de ilicitude para policiais. Então no caso do policial que mata em serviço não
deve haver mesmo qualquer responsabilização?
Se for um ato em confronto, em
que o policial está acobertado por uma excludente de ilicitude, não é
homicídio, é morte em combate. A excludente está no Código Penal desde 1940,
Artigo 25 (Responsabilização) em hipótese alguma. É auto de resistência e arquivo.
O ato é lícito.
Não há consenso sobre a
interpretação de que basta o bandido estar de fuzil, sem mirar em alguém, para
que se configure ato em legítima defesa.
Se estiver mirando em alguém,
tem de receber tiro na cabeça na hora.
Se não há agressão, é legítima
defesa sem dúvida?
Também tem de morrer. Está de
fuzil? Tem de ser abatido.
Se o senhor dá essa
autorização expressa e o policial depois é processado, a responsabilidade não
cai no seu colo?
Não vai cair no meu colo nada.
Vai cair no colo do Estado. O Estado tem de entender que tipo de segurança
pública quer.
Houve casos de pessoas que
morreram porque estavam com uma furadeira ou um guarda-chuva. Os policiais se
confundiram. Atira primeiro e verifica depois?
Quem atirou é um incompetente,
não devia ter atirado. Não estava preparado. Se fizer um curso de “sniper”, vai
estar preparado para identificar quem está de guarda-chuva.
O senhor falou em colocar
“snipers” em helicópteros. Os moradores das favelas ficam em pânico nessas
operações.
E os cinco bandidos de fuzil
atirando para tudo quanto é lado não contam, não? A errada é a polícia?
Da polícia o cidadão espera a
conduta correta; do bandido, não…
O correto é matar o bandido
que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e…
fogo! Para não ter erro.
Essa diretriz não vai aumentar
os índices de letalidade?
Vai reduzir os índices de
bandido de fuzil em circulação.
Se matar bandido reduzisse a
violência, o Rio seria um paraíso…
Então não está matando, não é?
Está deixando de matar.
O senhor está dizendo que a
polícia do Rio mata pouco? Só em agosto, foram 175 pessoas mortas por policiais
(um aumento de 150% na comparação com agosto de 2017).
Tem de resolver o problema,
não está sendo resolvido.
A polícia do Rio é a que mais
morre e a que mais mata do Brasil.
É que tem muito bandido na
rua. Mas não é só um lado da moeda. Tem a questão do combate à lavagem, o
trabalho para asfixiar quem está fornecendo fuzis. Não é só fazer guerra: tem
de tirar o fuzil de circulação, evitar isso. Caso contrário, não adianta, é
chover no molhado. É incompetência de todos os lados.
Fonte: Jovem Pan