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Layane contou que mesmo buscando
cuidados, o quadro de saúde dela foi piorando e a infecção motivada pelo
piercing, foi tomando gigantes proporções
Um relato dramático da estudante de Recursos
Humanos, Layane Dias, de 21 anos, acendeu o sinal de alerta para aqueles que
fazem o uso ou pretendem fixar acessórios pelo corpo. Após aplicar um piercing
no nariz, a estudante teve sérios problemas de infecção e teve parte do corpo
paralisado.
Layane contou que mesmo
buscando cuidados, o quadro de saúde dela foi piorando. A infecção motivada
pela aplicação do piercing foi tomando proporções. E semanas depois, ela teria
sentido a perda do movimento das duas pernas. A situação tornou-se ainda mais
difícil, quando a jovem deixou de sentir partes do restante corpo. "Dos
seios para baixo, eu não conseguia sentir mais nada", contou a jovem.
De acordo com informações do
neurocirurgião Oswaldo Ribeiro Marquez, que acompanhou o tratamento da jovem,
ela teria sido vítima de uma bactéria extremamente resistente. Conhecida como
Staphylococcus Aureus, a bactéria é comumente e pode causar mazelas em
diferentes níveis, quando consegue atingir a corrente sanguínea de uma pessoa.
O especialista explicou
também, que apesar de raro, é possível que um piercing deixe uma pessoa
paraplégica. "Essa situação pode acontecer quando há alguma complicação em
decorrência do piercing", pontua o profissional, que afirma nunca ter
visto situação parecida desde que iniciou a carreira na medicina, há cerca de
15 anos.
Segundo o médico, as
complicações com o piercing ocorrem quando o objeto abre caminho para
infecções. "A disseminação de qualquer infecção cutânea costuma ser
hematogênica - quando é transmitida pela corrente sanguínea. Por exemplo, se a
bactéria está na ponta do nariz, ela pode evoluir, pegar o nariz inteiro, cair
na corrente sanguínea e parar em outro canto do corpo", esclarece.
Sintomas
No início de julho, segundo
Layane, surgiu uma bola vermelha na ponta do nariz, semelhante a uma espinha.
"Eu achava que era apenas uma espinha, mas ela me causou febre. Como
pensei que não fosse nada relevante, cuidei em casa mesmo, com pomadas. Em uma
semana, ela aparentemente teria sumido", contou.
Layane disse que dias depois,
ela comemorava uma vaga de estágio que havia acabado de conquistar. "Na
época eu tinha conseguido um estágio. Fui muito animada, parecia o melhor
momento da minha vida. Lembro que no período da noite quando eu retornei do
trabalho, as dores começaram a surgir. Elas iam e voltavam. Tomei medicamentos
e elas diminuíram. No dia seguinte, a situação foi igual. Três dias se passaram
e as dores ficavam ainda mais fortes. Elas eram nas costas e no pescoço",
explicou.
Layane contou que buscou ajuda
em um hospital. Na época, o médico teria perguntado se ela teria tido alguma
espinha na região do nariz ou algo assim, porque essa bactéria, comumente, é
desenvolvida nas fossas nasais. Foi ai então que ela revelou que havia colocado
um piercing no lado esquerdo do nariz, há um mês anterior. "Quando contei
isso, ele me disse: o piercing foi a entrada da bactéria em seu corpo. Ouvir
isso me deixou em choque", conta.
Na manhã seguinte da avaliação
no hospital, a jovem passou a sentir que as pernas estavam enfraquecidas.
"Tive que tomar banho com a ajuda da minha mãe", diz. Naquele dia,
ela foi com a mãe em uma igreja. "Quando voltei, a dor estava
insuportável. Deitei e dormi. Quando acordei, naquela tarde, não senti mais as
minhas pernas." contou.
Para a jovem, naquele momento
ela teria percebido que algo não estava bem. " lembro que dali em diante,
minha vida mudou. Fui realizar vários exames. Foram dias de dor e sofrimento.
Mesmo sendo cuidada por excelentes profissionais, a minha vida mudou e eu nunca
mais serei a mesma", desabafou.
O piercing
Layane sempre se considerou
uma jovem vaidosa. Além de estudante de Recursos Humanos, também fazia alguns
trabalhos como modelo fotográfica.
Ela revela que sempre gostou
de piercings. "Já tinha colocado na parte direita do nariz por três
vezes", comenta. Em junho passado, a estudante mudou o lado do piercing.
"Foi a primeira vez em que coloquei na parte esquerda do nariz. Também foi
a primeira vez em que saiu sangue durante o procedimento para colocar o
piercing."
Relato de um especialista
A dermatologista Alessandra
Romiti ressalta que as complicações decorrentes do piercing, comumente,
acontecem apenas na área do corpo em que o objeto é colocado. "Há casos
como inflamações ou infecções locais. Por isso, é fundamental que o
estabelecimento obedeça às normas de higiene adequadas. O material utilizado
tem que estar esterilizado, o piercing tem que estar limpo e a pele precisa ser
muito bem higienizada", diz.
"Depois, o paciente
precisa manter o lugar limpo para evitar o risco de haver qualquer tipo de
contaminação", acrescenta. Segundo a médica, complicações graves são
consideradas extremamente raras.
O avanço da bactéria
Layane foi carregada às
pressas ao hospital após sentir fortes dores e perceber que boa parte do corpo
estava paralisado. "O médico pediu exames de sangue e de urina. Eu já não
conseguia fazer minhas necessidades e tive de colocar uma sonda. Quando saiu o
resultado do exame, apontou que eu estava com uma infecção no sangue.",
explicou.
"O médico começou a furar
a minha perna e eu, realmente, não estava sentindo nada. Como era um caso
grave, fui transferida para o Instituto Hospital de Base, em Brasília",
relata.
Ela conta que as dores se
intensificaram. "Os médicos não conseguiam ter um diagnóstico exato.
Suspeitaram de câncer ou síndrome de Guillain-Barré", diz.
Na madrugada de um domingo, 22
de julho, ela se recorda que as dores ficaram insuportáveis. "Eu estava
deitada em uma maca, sem me mexer, cheia de furos, tomando soro e várias
medicações. Minha mãe estava sentada em uma cadeira ao lado. Eu pedi pra ela:
'desculpa, mas aplica alguma coisa, porque eu preciso morrer. Não aguento
mais'. E a minha mãe respondeu que não aplicaria nada, porque eu iria aguentar
aquilo tudo", relembra.
"Para aliviar as dores,
começaram a me dar morfina por um período. Isso me alucinava muito e um médico
pediu para suspender", conta.
Marquez avalia que é "bem
provável e plausível" que Layane tenha ficado paraplégica em decorrência
do piercing. Porém, ressalta que somente estudos genéticos podem garantir que a
paraplegia da jovem foi motivada unicamente por complicações oriundas da
inserção do objeto no nariz.
A cirurgia de Layane teve o
objetivo de retirar o pus que comprimia a medula da jovem. "Esse
procedimento evitou a progressão da paraplegia, que poderia subir. O pus
poderia causar uma infecção que poderia até levar à morte. Com a retirada do
líquido, a medula dela foi descomprimida e evitou que o quadro da paciente
piorasse", explica Marquez.
A estudante disse que não
planeja tomar nenhuma medida contra o profissional responsável por colocar o
piercing. "Eu optei por não falar sobre ele, porque isso não me fará
voltar a andar. Espero que a minha situação faça com que ele se preocupe mais
com a saúde dos clientes a partir de agora", declara a jovem, que revela
que já havia colocado um piercing com o mesmo profissional anteriormente.
"No de antes, não tive nenhum problema."
A vida na cadeira de rodas
Por dois meses, Layane
permaneceu internada para se recuperar. No hospital, soube que é incerta a
possibilidade de voltar a andar. "Dois dias depois da cirurgia, o médico
me disse que eu continuaria sem sentir as minhas pernas", relata. Hoje,
ela faz acompanhamento com uma psicóloga e sessões de fisioterapia.
A descoberta de que
permaneceria na cadeira de rodas foi um dos momentos mais difíceis para a
jovem. "Eu fiquei arrasada. A princípio, foi uma situação muito
triste", conta.
Para o especialista, há
possibilidade de Layane retomar os movimentos das pernas. Porém, segundo o
neurocirurgião, ainda é prematuro fazer uma avaliação. "A medicina tem
avançado nesse aspecto e há estudos que apontam sobre essa possibilidade. Por isso,
não podemos negar que ela retomará os movimentos das pernas, assim como não
podemos garantir isso", pondera.
Fonte: Diário de Arapiraca