EXCLUSIVO: troca de e-mails foi identificada pela PF. Em
depoimento, engenheiro disse ter se sentido pressionado a assinar declaração de
estabilidade da barragem.
Uma troca de e-mails entre
profissionais da Vale e duas empresas ligadas à segurança da barragem de
Brumadinho mostra que, dois dias antes do rompimento, a Vale já havia
identificado problemas nos dados de sensores responsáveis por monitorar a
estrutura.
Os e-mails foram identificados
pela Polícia Federal. Até esta quarta-feira, havia a confirmação de 150 mortos
e 182 desaparecidos em decorrência do mar de lama liberado após o rompimento da
barragem.
A TV Globo teve acesso aos
depoimentos prestados por dois engenheiros da empresa TÜV SÜD, André Jum
Yassuda e Makoto Namba, responsáveis por laudos de estabilidade da barragem.
Os advogados Augusto de Arruda
Botelho e Brian Alves Prado, que defendem os engenheiros, disseram que não vão
comentar.
Yassuda e Namba foram presos
pela Polícia Federal na semana passado. Nesta terça-feira (5), o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) determinou que eles fossem libertados.
Ao questionar Namba, o
delegado Luiz Augusto Nogueira, da Polícia Federal, se refere à existência de
e-mails trocados entre funcionários da Vale, da TÜV SÜD e da Tec Wise, outra
empresa contratada pela Vale.
As mensagens começaram a ser
trocadas no dia 23 de janeiro, às 14h38, e se prolongaram até as 15h05 do dia
seguinte. A barragem se rompeu em 25 de janeiro.
Nas perguntas, o delegado diz
que o assunto das mensagens "diz respeito a dados discrepantes obtidos
através da leitura dos instrumentos automatizados (piezômetros) no dia
10/01/2019, instalados na barragem B1 do CCF, bem como acerca do não
funcionamento de 5 (cinco) piezômetros automatizados".
No depoimento não constam, no
entanto, detalhes sobre as mensagens.
O engenheiro afirma que só
ficou sabendo das alterações dos dados fornecidos pelos sensores após o
rompimento da barragem.
Depois de lidas as mensagens
para ele, Namba foi questionado sobre "qual seria sua providência caso seu
filho estivesse trabalhando no local da barragem".
Namba respondeu, segundo o
relatório da Polícia Federal, que "após a confirmação das leituras,
ligaria imediatamente para seu filho para que evacuasse do local bem como que
ligaria para o setor de emergência da Vale responsável pelo acionamento do PAEBM
[Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração] para as providências
cabíveis".
A TÜV SÜD informou que não
comentaria o assunto por estar sob sigilo.
Engenheiro se disse
pressionado
No depoimento, o engenheiro
Makoto Namba também relatou uma reunião com funcionários da Vale sobre o laudo
de estabilidade assinado por ele.
Namba disse que um funcionário
da Vale chamado Alexandre Campanha perguntou a ele: “A TÜV SÜD vai assinar ou
não a declaração de estabilidade?”.
Namba disse à PF ter
respondido que a empresa assinaria o laudo se a Vale adotasse as recomendações
indicadas na revisão periódica de junho de 2018, mas assinou o documento.
Segundo ele, “apesar de ter
dado esta resposta para Alexandre Campanha, o declarante sentiu a frase
proferida pelo mesmo e descrita neste termo como uma maneira de pressionar o
declarante e a TÜV SÜD a assinar a declaração de condição de estabilidade sob o
risco de perderem o contrato”.
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Por: G1