Uma equipe da Delegacia de
Combate às Drogas (DCOD) que investigava uma denúncia em Visconde de Mauá, no
município de Resende, no Sul do estado do Rio, foi cercada por oito viaturas do
37º BPM (Resende) na estrada, na noite da última quinta-feira. Os policiais civis
relataram, em registro de ocorrência, que apesar de estarem uniformizados,
identificados e em viaturas oficiais caracterizadas, foram colocados deitados,
com o rosto virado para o asfalto e ameaçados pelos militares, com fuzil
apontado para suas cabeças.
O registro, feito na própria
DCOD, descreve a seguinte cena: deitado no chão e com um fuzil apontado para o
seu rosto, o policial que relata os fatos pergunta ao policial militar se ele
"vai ter coragem de atirar num colega", e o PM responde que sim.
De acordo com o registro de
ocorrência, os policiais civis foram até Visconde de Mauá investigar a denúncia
de que um traficante da Mangueira estaria comemorando seu aniversário na
companhia da mulher numa pousada do distrito. Ao chegarem a uma pousada, logo
após tocarem o interfone, foram abordados por dois policiais militares que
chegaram numa viatura. Os agentes da DCOD acreditam que os sargentos foram
chamados pelo dono da pousada, que, ainda de acordo com o registro policial,
teria permitido a entrada dos agentes.
Os policiais da Civil relatam
que, assim que a patrulha da Polícia Militar chegou à pousada, a viatura
caracterizada da DCOD também se aproximou, e todos os agentes se identificaram
para os PMS e explicaram o motivo da diligência. No registro de ocorrência, há
a informação de que, ao verificarem os nomes de todos os hóspedes com o dono da
pousada, não foi necessária revista, e a equipe seguiu para outras pousadas.
Após rodarem por cerca de 40 minutos sem localizar o veículo que estaria sendo
usado pelo traficante, a equipe da Civil decidiu voltar para o Rio.
Abordados na estrada
Os policiais civis afirmam
que, na estrada, passaram por "várias viaturas" da Polícia Militar
"que subiam em direção contrária e, cerca de dez minutos após, as mesmas
viaturas retornaram e realizaram um cerco". O agente da DCOD relata que
"toda a equipe foi rendida, mesmo com a roupa da Polícia Civil e com seus
distintivos nas mãos", e obrigada pelos policiais militares a deitar no
chão. "Mesmo após apresentar as carteiras funcionais e seus distintivos
aos policiais militares, a equipe do depoente (policial civil) continuou
cercada, recebendo diversas ameaças e ordenando-lhes a deitar no chão". O
agente da DCOD afirma que o sargento que abordou sua equipe na pousada de
Visconde de Mauá acionou as demais viaturas da PM alegando que eles seriam uma
quadrilha de assaltantes de caixa eletrônico.
O registro de ocorrência
ressalta que as duas viaturas usadas pelos policiais civis, uma van e uma
Duster, estavam com o BPM (Boletim de Missão Policial) e o BDT (Boletim Diário
de Tráfego), documentos que garantem que o policial civil se encontra em
serviço. Não havia mandados de busca ou de prisão.
O registro de ocorrência é
finalizado com a seguinte observação: "Se um agente da lei não é capaz de
diferenciar um policial civil devidamente identificado, com sua carteira
funcional e seu distintivo, numa viatura caracterizada, de infratores, aquele
não pode exercer a função de patrulhamento ostensivo em ambientes públicos, sob
perigo de causar grave dano à sociedade que deve salvaguardar".
Procurados, os secretários
estaduais de Polícia Militar e de Polícia Civil informam que "todas as
providências estão sendo tomadas para que os fatos sejam devidamente
apurados". O coronel Rogério Figueiredo e o delegado Marcus Vinícius Braga
reafirmam que a integração é a base do trabalho das duas instituições. Desde o
início deste ano, a Secretaria de Segurança foi extinta, o que transformou
tanto a Polícia Militar como a Polícia Civil em secretarias autônomas,
subordinadas diretamente ao governador, que preferiu não se manifestar.
Equipe da Polícia Civil, em carro caracterizado, é abordada e enquadrada por PMs, em Resende Foto: Reprodução de vídeo |
Fonte; Extra/ vídeo: youtub