Cícero foi condenado a 20 anos por latrocínio, mas faz planos profissionais dentro da prisão. Foto: Seris/Divulgação |
Ex-reeducando estudou
administração a distância durante os 10 anos de reclusão e diploma será
entregue em solenidade no Tribunal de Justiça na terça-feira
Após passar dez anos preso no
sistema penitenciário alagoano, Cícero Alves Júnior, de 36 anos, ganhou a
liberdade e, junto com ela, um diploma de administração conquistado dentro do
Núcleo Ressocializador. Se todo o curso a distância foi cumprido de dentro da
prisão, o recebimento do diploma irá acontecer fora dela, com uma formatura no
Tribunal de Justiça de Alagoas marcada para terça-feira (30), às 17h.
Preso em 2009 quando foi
condenado pelo crime de latrocínio, Cícero Alves tinha apenas o ensino médio
completo e decidiu fazer um curso de graduação a distância em 2015. Apesar das dificuldades, conseguiu iniciar os
estudos, fazer mais de 80 cursos profissionalizantes, produzir artigos
científicos e concluir o ensino superior. Para realizar as atividades
acadêmicas, ele utilizava um dos 10 computadores existentes no núcleo.
A porta de entrada para o
ensino superior foi o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2014, que
também é realizado por detentos em um período diferente àquele feito pelo
restante da população. Após ser aprovado no exame, a bolsa de estudo estava
garantida. Ele precisou da aprovação da Justiça para começar a estudar.
Iniciou-se o que ele chama de
“processo de convencimento e de apresentação da ideia, porque nunca um preso em
regime fechado conseguiu cursar o ensino superior”, diz. Cícero procurou o
então juiz da 16ª Vara de Execução Penal, José Braga Neto, e a Secretaria de
Ressocialização e Inclusão Social (Seris).
Enquanto esteve preso, Cícero contou que sua motivação foi o próprio
pai, que se formou em engenharia civil aos 65 anos, mas não poderá prestigiar a
formatura do filho porque faleceu há 8 meses.
Sua rotina na prisão era de
duas horas estudando através do computador e de trabalhos realizados, antes no
acervo bibliográfico do projeto ressocializador e depois no almoxarifado da
padaria, onde ajudou a administrar o estoque. Ao se recolher à cela pela noite,
ele voltava aos estudos, onde lia livros por três horas. “Não foi fácil, era
muita ansiedade, mas só acreditei depois que coloquei os pés fora do presídio”,
conta Cícero.
A formatura, segundo ele, será
realizada com a presença de familiares e amigos que o ajudaram enquanto esteve
recluso. O supervisor do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema
Carcerário (GMF), desembargador Celyrio
Adamastor Tenório, participará da colação de grau.
Ele saiu do regime fechado
para o semiaberto há três semanas e agora não está trabalhando. Diz que recebe
a ajuda de amigos para conseguir realizar palestras, poder contar a sua
história e falar sobre a real possibilidade de ressocialização dentro do
sistema penitenciário.
“Eu sou prova de que ela
[ressocialização] existe, mas não é fácil. Pois ela depende, principalmente, da
pessoa presa. Costumo dizer que 90% partem do reeducando e outros 10% são do
Estado junto com o Judiciário. A mudança é algo de dentro para fora. O meio
externo pode dar apenas condições para que isso ocorra”, expõe.
Cícero Alves foi condenado a
20 anos de reclusão por latrocínio, após ter sido preso com mais 15 pessoas.
Ele nega que tenha praticado o crime. Afirma que conhecia quatro pessoas das 15
que foram detidas. Alega que tinha conhecimento do fato, mas que não estava no
local e nem na hora do ocorrido. “Não tenho para que mentir diante de todos os
anos em que passei naquele lugar”, finaliza.
Cícero foi condenado a 20 anos por latrocínio. Foto: Cortesia ao OP9/ Seris |
Por:OP9.com