Pessoas esperam do lado de fora de cemitério de Guayaquil, no Equador, para enterrar familiares em caixões e caixas de papelão. Imagem do dia 6 de abril — Foto: Jose Sanchez / AFP |
'Vejo fumaça dos corpos
sendo queimados em cemitérios. Estou vivendo em um filme de terror,
apocalíptico', diz ao G1 engenheiro carioca morador da cidade equatoriana que é
epicentro da Covid-19 no país. Município enfrenta caos nos sistemas de saúde e
funerário.
"Vejo urubus no céu de
Guayaquil e à tarde a fumaça dos corpos sendo queimados em um dos cemitérios da
cidade. Agora, estou vivendo em um filme de terror, apocalíptico.”
O relato foi feito ao G1 por
um engenheiro brasileiro que mora há décadas na cidade equatoriana e pediu para
não ser identificado. Ele fez um um vídeo mostrando as aves na tarde de
quarta-feira (15).
O município portuário tem
mais de 2 milhões de habitantes e é o motor e centro econômico do Equador, mas
está com as ruas desertas.
Há duas semanas, desde que
se tornou o epicentro da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) no país, vem
enfrentando um cenário de horror. Guayaquil tem 4 mil pacientes com a doença
Covid-19 e hospitais superlotados antes mesmo de atingir o pico no número de
infectados. Há relatos de famílias que não conseguem localizar parentes que
estavam internados e morreram.
Como os sistemas de saúde e
funerário entraram em colapso, cadáveres demoram a ser recolhidos. Há corpos
abandonados por famílias em vias públicas. Estão à espera da força-tarefa
composta por militares e policiais militares criada pelo governo de Lenín
Moreno.
A prefeita Cynthia Viteri
afirmou que "não há espaço nem para vivos, nem para mortos" nos
hospitais e cemitérios da cidade.
Entenda por que o sistema
hospitalar e os necrotérios entraram em colapso no Equador
Com 17,4 milhões de
habitantes, o Equador registra oficialmente mais de 7,8 mil casos do novo
coronavírus e 388 mortes confirmadas por coronavírus, segundo a universidade
americana Johns Hopkins. No entanto, o temor é que esses números sejam muito
mais elevados, diante da falta de testes para detectar a Covid-19. Cerca de
mais 1000 mortes são consideradas suspeitas.
Autoridades esperam para as
próximas semanas até 3,5 mil mortes na província de Guayas, cuja capital é
Guayaquil, e onde foram registrados mais de 70% dos casos de infecção pelo
coronavírus no país.
O clima quente da cidade
costeira voltada para o Pacífico acelera o processo de putrefação. Os urubus,
antes raramente vistos, agora rondam parte da cidade. O céu foi invadido pelo
material exalado por crematórios.
Neste domingo (12), o
governo anunciou ter retirado mais 700 corpos de pessoas que morreram em suas
residências nas últimas semanas em Guayaquil (assista ao vídeo abaixo). Não
está comprovada qual a causa da morte de todas elas – o que impede saber quantas
foram vítimas da Covid-19.
O engenheiro brasileiro
conta que, há cerca de um mês, passou a trabalhar em home office. Diz que
amigos lhe enviaram vídeos que mostram corpos na área central da Guayaquil.
"Os relatos de pessoas
mortas nas ruas que vocês estão recebendo [no Brasil] são verdadeiros. Recebi
vídeos, mas tive de apagar. Eu não suportei", afirma.
Os corpos são transportados
por caminhões improvisados. “O líquido dos corpos em decomposição vai sendo
derramado nas ruas, infectando tudo. O mau cheiro é insuportável.”
Com as estritas regras de
confinamento em vigor, fabricantes de caixões estão enfrentando dificuldade de
conseguir matéria-prima, conta o engenheiro carioca. Imagens de agências de
notícias mostram mortos sendo enterrados em caixas de papelão.
O brasileiro recebe pedidos
de ajuda de conhecidos para enterrar os mortos. “Antes da crise, um caixão
custava em torno de U$ 800. Agora o preço pode chegar até a U$ 2 mil.”
Assista, no vídeo acima, a imagens de urubus sobrevoando Guayaquil. AQUI:
Carros transportam caixões com possíveis vítimas de complicações de Covid-19 por rua deserta de Gayaquil, no Equador, no sábado (11) — Foto: Luis Perez/AP |
Por:G1