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Suspeito
clonou documentos de um médico oftalmologista que atualmente está morando na Colômbia
O homem que se passou por médico em um
hospital de Praia Grande, no litoral de São Paulo, assinou a declaração de
óbito de um paciente com coronavírus um dia antes de ser preso pela Polícia
Federal. Ele foi detido no dia 31 de maio, durante seu turno no Hospital
Municipal Irmã Dulce. A família do paciente teme que tenha ocorrido um erro no
tratamento, depois de o aposentado de 54 anos ter sido atendido pelo falso
médico.
O
falso profissional usava o nome e o registro do Conselho Regional de Medicina
do oftalmologista colombiano Dr. Henry Cantor Bernal. O nome do suspeito não
foi informado pela Polícia Civil. O verdadeiro especialista contou que soube
que havia sido vítima de clonagem ao receber um aviso de um colega brasileiro
que estaria participando de um processo seletivo para fazer plantões no
hospital de São Caetano do Sul (SP) em 2018. Ele mora na Colômbia há 16 anos.
Em
entrevista ao G1, a irmã de Daniel da Silva, Claudia da Silva Santos, contou
que ele foi internado no dia 23 de maio após apresentar sintomas do novo
coronavírus. Ele era morador de São Vicente e foi levado à unidade de saúde
pela companheira, pois acreditava que receberia um tratamento melhor. Segundo a
irmã, ele teve de ser hospitalizado em decorrência da diabetes, que estava
alta, e ficou isolado.
Após
alguns dias, Claudia foi visitá-lo e conversou com o suposto médico.
"Entrei na sala, falei com ele e perguntei como estava meu irmão. O médico
me falou que ele estava muito bem e que ia sair dessa. Ainda me disse que ele
estava andando e conversando", afirma. Na sexta-feira (29), ela voltou ao
hospital para saber notícias de Daniel e levar algumas peças de roupas.
Para
sua surpresa, o irmão havia piorado. "Ele me falou assim: ?Seu irmão ficou
ruim de quinta para sexta à noite e piorou?. Ainda perguntei se ele não estava
bem e o médico me falou: ?Pois é, ele estava bem, mas não sei o que aconteceu?.
Questionei sobre os exames de coronavírus", explica. Segundo Claudia, a
família não soube se o irmão fez os exames para atestar com precisão o
coronavírus e, em nenhum momento, o hospital ou o médico apresentaram o
resultado do teste. Eles foram comunicados da morte de Daniel no dia 30 e
receberam a declaração de óbito, informando que a causa da morte era doença
respiratória aguda, Covid-19.
"Não
sabíamos que ele estava com coronavírus. O médico falou que eles estavam
fazendo exame, mas ninguém viu os resultados. Quando o médico me disse que ele
estava pior, disse que iria trocar a medicação e ver como ia reagir. Ele me deu
esperança. Meu irmão morreu e nem chegamos a velá-lo. Meu irmão estava andando
e conversando. Ele entrou no hospital e morreu", desabafa.
Ao
saber que aquele que atendeu Daniel se tratava de um falso médico, a família
passou a se questionar se o aposentado não teria morrido por causa de
tratamento errado, e solicitou o prontuário de atendimento ao Irmã Dulce,
conforme informou o advogado Márcio Tamada. No entanto, até o momento, eles não
receberam.
"Será
que ele não deu a medicação errada para o meu irmão? Meu irmão era diabético e
não é qualquer tipo de remédio que ele podia tomar. Estamos anestesiados ainda.
Meu irmão era forte, estava com saúde e do nada morreu", finaliza Claudia.
Em
nota, a defesa da família informou que a administração do Hospital Irmã Dulce
se nega a fornecer o prontuário médico e que busca uma cópia do documento para
ingressar na justiça com ação de indenização por danos morais contra o
município de Praia Grande e a unidade hospitalar. A defesa entrará com uma ação
cautelar para exigir a exibição de documentos.
O
G1 entrou em contato com a defesa do homem indiciado, que preferiu não se
pronunciar a respeito do caso. A reportagem também solicitou um posicionamento
da direção do Hospital Municipal Irmã Dulce, de Praia Grande, mas até a última
atualização não obteve retorno.
Entenda o caso
Um
homem, que ainda não teve o nome revelado, falsificou documentos e atuava há
pelo menos um ano no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande. Ele foi preso por um
equipe da Polícia Federal no dia 31 de maio durante um turno de trabalho,
enquanto prestava atendimento a pessoas com Covid-19 internadas na unidade de
saúde.
Após
a denúncia, familiares de pacientes do falso médico procuraram a Polícia Civil
para registrar boletim de ocorrência. Ao G1, algumas dessas famílias relataram
descaso e arrogância por parte do suspeito.
Em
relação ao fornecimento de prontuário, a direção do Hospital Irmã Dulce
esclarece que não procede a informação de que está negando seu fornecimento à
família. "Pontuamos que basta o familiar procurar a administração da
unidade, realizando os protocolos de solicitação de cópia de prontuário, com
apresentação da devida documentação, que o prontuário é fornecido".
Por:G1