O Banco Central (BC) lançou nesta quarta-feira (02/09) a nova nota de R$ 200,00 com a imagem do lobo-guará — Foto: Raphael Ribeiro/BCB |
Órgão alega 'falta de acessibilidade', devido a dimensões iguais à nota de R$ 20. Ação prevê multa de R$ 50 mil, por dia, em caso de descumprimento; G1 aguarda posicionamento da estatal.
A Defensoria Pública da
União (DPU) ingressou com uma Ação Civil Pública na Justiça para que o Banco
Central suspenda a confecção das notas de R$ 200. No processo, os defensores
alegam "falta de acessibilidade", já que as cédulas têm a mesmas
dimensões da nota de R$ 20.
"A inviabilização da identificação da nova cédula pelas pessoas com deficiência visual, por gerar efeitos de exclusão e prejuízo ao exercício dos direitos dessa comunidade, caracteriza discriminação por parte da Administração Pública", diz trecho do documento.
A ação foi protocolada na
última sexta-feira (9) e é assinada em conjunto com a Defensoria Pública do
Distrito Federal e com a Organização Nacional de Cegos do Brasil. A medida
também prevê multa de R$ 50 mil por dia em caso de descumprimento.
O G1 entrou em contato com o Banco Central de aguardava um posicionamento até a publicação desta reportagem.
No site da estatal, o banco
afirma a escolha pelas dimensões iguais das notas de R$ 200 e de R$ 20 foi
devido ao "curto espaço de tempo" para colocar a nova nota em
circulação. A cédula foi lançada no dia 2 de setembro.
O banco informou ainda que, para produzir a nova cédula em formato maior, "com a adequada combinação de elementos de segurança, seria necessária adaptação do parque fabril, o que não era viável no tempo disponível".
"Como a nova cédula possui um formato já existente, sua adaptação aos caixas eletrônicos e aos demais equipamentos automáticos que aceitam e dispensam cédulas será mais rápida."
Outras medidas
No documento, a Defensoria
Pública também solicita que a Justiça determine o recolhimento das notas de R$
200 já em circulação, além da condenação do Banco Central que, na
impossibilidade de seja proibido de produzir novas cédulas com tamanhos
semelhantes ao de qualquer outra nota já em circulação.
Associação de Cegos critica
nova cédula com tamanho igual a de R$ 20
Em setembro, a Defensoria do
DF já havia recomendado as mudanças ao banco e à Casa da Moeda. As orientações,
portanto, não foram acatadas.
À época, a Defensoria
Pública do Distrito Federal informou que "estudava uma medida judicial
cabível para contestar a decisão do Conselho Monetário Nacional".
"Recebemos a resposta
do Banco Central, informando que precisavam colocar as cédulas o mais rápido
possível no mercado por conta da pandemia. E que haveria a acessibilidade, já
que as notas possuem marcações táteis, embora não tenham o tamanho
diferenciado."
O A reportagem conversou com
deficientes visuais para saber sobre as dificuldades em diferenciar as notas. O
consultor Fernando Rodrigues Hiacovvith, de 32 anos, afirmou que, em setembro,
já entregou a nota de R$ 200, por engano, ao realizar um pagamento.
"Acabei confundindo ao
pagar uma compra de R$ 12. Entreguei a nota de R$ 200, e o rapaz disse que não
teria troco. Então, tive que tirar todo o meu dinheiro do bolso para ele me
ajudar a identificar a nota de R$ 20", contou Fernando ao G1.
"A nota de R$ 200 tem o
mesmo tamanho da de R$ 20, é complicado. Tenho que contar com a boa fé da
pessoa."
Quem também lida diariamente
com os desafios da acessibilidade é a auxiliar de enfermagem Larissa Pâmela
Almeida Rodrigues, de 31 anos. Ela tem baixa visão desde os 20 anos, quando
perdeu parte do sentido devido às complicações do diabetes.
"Como deficiente visual
parcial, preciso de ajuda para ler letreiro de ônibus, ir ao banco e tenho
dificuldade em diferenciar algumas cédulas de dinheiro, por serem muito
parecidas", conta.
O que dizem os deficientes
visuais
Fernando Rodrigues Hiacovvith, de 32 anos, é consultor em áudio descrição e acessibilidade — Foto: Arquivo pessoal |
"Muitas vezes as imagens não são nítidas para pessoas com resíduo mínimo da visão ou para quem tem a deficiência total."
Assim como para tantos
outros cegos, para Larissa, hoje, a dificuldade maior está na diferenciação das
notas de R$ 20 e de R$ 200.
Além disso, a auxiliar de enfermagem também costuma confundir as cédulas de R$ 2 e de R$ 100, devido à semelhança de cor. Entre as moedas, ela diz que as de R$ 0,05 e as de R$ 0,10 "são praticamente inacessíveis para uma pessoa com baixa visão".
Por Marília Marques, G1 DF