Brasil conseguiu vacinar 5,5 milhões de brasileiros com a primeira dose desde 17 de janeiro. E só 0,1% da população já tomou a segunda dose. Em 7 tópicos, lista explica principais entraves da campanha.
Para a maioria do 77 milhões
de brasileiros dos grupos prioritários e sobretudo para todos os demais, ainda
não há resposta exata sobre quando será a vacinação. As vacinas contra a
Covid-19 existem, são eficazes, mas a primeira dose só chegou a 5 milhões de
brasileiros após um mês de campanha. Entre eles, pouco mais de 300 mil
receberam a 2ª dose. Além disso, cidades pelo Brasil começam a suspender a
campanha por falta do imunizante.
Especialistas ouvidos pelo G1 listam as pedras no caminho (veja tópicos abaixo) e dão as perspectivas do que precisa ser feito para a vacinação avançar no país. Nesta reportagem, veja análise dos seguintes pontos:
Compra limitada de vacinas
Atraso na elaboração e
divulgação do PNI
Escassez de vacinas no mundo
Dificuldades na importação
do IFA
Falta de clareza nas fases e
grupos prioritários
Falta de apoio para pesquisa
e produção 100% nacional
Demora no avanço e registro
de novas vacinas
Abaixo, veja os detalhes dos
sete tópicos.
1. Compra limitada de
vacinas
O Brasil tem um número
limitado de doses disponíveis e uma das explicações é o fato de o governo
federal ter apostado em somente uma vacina: Oxford/AstraZeneca.
A imunização começou no
Brasil utilizando a aposta do governo de São Paulo na vacina chinesa CoronaVac.
Em janeiro, o Ministério da Saúde entregou aos estados 10,7 milhões de doses da
vacina, o único imunizante contra Covid-19 disponível no país até aquele
momento. A quantidade é suficiente para imunizar apenas cerca de 5,3 milhões
dos 77,2 milhões de pessoas que formam os grupos prioritários estabelecidos
pelo Plano Nacional de Imunização (PNI).
A pequena oferta de doses é reflexo da demora do governo federal em firmar os contratos de aquisição com as farmacêuticas. Até dezembro, o Brasil havia fechado acordo apenas com a Universidade de Oxford/AstraZeneca.
Cientistas de Oxford relatam
vacina segura e com resposta imune
A confirmação da compra de
doses da CoronaVac ocorreu somente em janeiro. A negociação da vacina tem sido
objeto de disputa política desde outubro, quando o ministro da Saúde Eduardo
Pazuello foi desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro e forçado a desistir
de comprar 46 milhões de doses do imunizante.
Considerando a previsão de 354 milhões de doses para este ano, o Brasil negociou 1,68 dose por habitante. O número está abaixo de países como Canadá (8,99 doses por habitante), Reino Unido (6,83), Chile (4,66), EUA (3,68) ou Japão (2,48).
Sem variedade nos contratos com as farmacêuticas, a previsão é que o país receba até março mais 27,37 milhões de doses da Coronavac, 2,6 milhão de doses do consórcio Covax e 7,5 milhões de imunizantes da Universidade de Oxford/AstraZeneca. A quantidade não será suficiente para vacinar nem mesmo um quarto dos grupos considerados prioritários.
“Não compramos quando
precisávamos comprar [a vacina] e se não comprarmos agora, para uma entrega
daqui a talvez dois meses ou quando a oferta aumentar, vamos ficar sem vacina.
Então temos que fazer mais acordos, temos que comprar de outros fornecedores,
outros tipos de vacinas, doses prontas de vacinas que possam ser usadas
imediatamente”, afirma Denise Garret, epidemiologista e vice-presidente do
Sabin Vaccine Institute.
2. Atraso na elaboração e
divulgação do PNI
O plano nacional de
vacinação é alvo de críticas, foi divulgado com atraso e a definição de quem é
prioridade ainda está sendo cobrada do Ministério da Saúde pela Justiça
O Ministério da Saúde
apresentou um primeiro plano de vacinação contra a Covid-19 em 11 de dezembro,
após partidos entrarem com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) cobrando o
governo.
A primeira versão do plano informava que mais de 51 milhões de pessoas seriam vacinadas em quatro fases ao longo do primeiro semestre de 2021. Contudo, o documento, considerado pouco específico pelos especialistas, não estipulava uma data para o início da vacinação.
Governo entrega ao STF plano
nacional de imunização contra a Covid
Além disso, no mesmo dia do
anúncio, pesquisadores que assessoraram o Ministério da Saúde e tiveram os
nomes citados no documento emitiram nota conjunta afirmando não terem sido
consultados antes do envio do plano de vacinação ao STF.
Mais de um mês depois, em 20 de janeiro, o Ministério da Saúde entregou um plano de vacinação atualizado. A pasta aumentou o grupo prioritário para mais de 77 milhões de pessoas, passando a incluir, além dos idosos e profissionais da saúde, trabalhadores industriais e portuários. O governo ainda excluiu as quatro etapas de vacinação e detalhou apenas a primeira delas, sem especificar quais subgrupos deveriam ser prioridade dentre os 27 listados como prioritários.
3. Escassez de vacinas no
mundo
Os cientistas e laboratórios
conseguiram aprovar vacinas em tempo recorde, mas os custos e os gargalos de
produção são problemas globais, e entidades como a Organização Mundial da Saúde
(OMS) alertaram países para a necessidade de preparação
Não é só o Brasil que
enfrenta problemas com a vacinação. Nas últimas semanas, União Europeia
criticou a demora na entrega de vacinas da AstraZeneca/Oxford. A
Pfizer/BioNTech também anunciou atrasos. O Canadá, que assinou acordos com sete
fabricantes em um total de mais de 400 milhões de doses (muito acima do número
de habitantes), também não recebeu as doses e não conseguiu atingir as metas de
vacinação. Nos EUA, o presidente Joe Biden alertou em janeiro para uma possível
falta de vacinas.
Por Carolina Dantas, Laís
Modelli, Lara Pinheiro e Mariana Garcia, G1