Campanha 'Sinal Vermelho' ajuda mulheres a pedir socorro de maneira discreta: desenhando um X vermelho na mão — Foto: Antonio Marcio/PMMI |
Levantamento do Datafolha encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicou que caiu violência na rua e aumentaram agressões dentro de casa. O "vizinho", que em 2019 ficou em 2º lugar como autor das agressões (21%), neste ano sumiu das respostas. Em seu lugar apareceram pai, mãe, irmão, irmã, e outras pessoas do convívio familiar.
Uma em cada quatro mulheres
acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência no último ano no
Brasil, durante a pandemia de Covid, segundo pesquisa do Instituto Datafolha
encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgada nesta
segunda-feira (7).
Isso significa que cerca de 17 milhões de mulheres (24,4%) sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano. A porcentagem representa estabilidade em relação à última pesquisa, de 2019, quando 27,4% afirmaram ter sofrido alguma agressão.
No entanto, para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esse pequeno recuo deve ser analisado à luz de outros indicadores da pesquisa, como o lugar onde a violência ocorreu e quem foi o autor.
Na comparação com os dados da última pesquisa, há aumento do número de agressões dentro de casa, que passaram de 42% para 48,8%. Além disso, diminuíram as agressões na rua, que passaram de 29% para 19%. E cresceu a participação de companheiros, namorados e ex-parceiros nas agressões.
Em 2021, o
"vizinho", que em 2019 ficou em segundo lugar como autor das
agressões (21%), neste ano sumiu das respostas. Em seu lugar apareceram o pai,
a mãe, irmão, irmã, padrasto, madrasta, o filho e a filha.
"A gente está falando de pessoas da família, que caracterizam esse fenômeno que não é uma violência doméstica como a gente tende a pensar no sentido de ser uma violência só do companheiro. Mas é uma violência intrafamiliar, que está acontecendo ali no seio da família", disse Samira.
Quando se analisa a
violência contra mulheres acima de 50 anos, por exemplo, cresce a participação
de filhos e enteados nas agressões.
Violência dentro de casa
Assim como nas edições
anteriores (2017 e 2019) da pesquisa, as mulheres sofreram mais violência
dentro da própria casa e os autores de violência são pessoas conhecidas da
vítima.
Em sua terceira edição, a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil" ouviu 2.079 mulheres acima de 16 anos entre os dias 10 e 14 de maio deste ano, em 130 municípios do país. As respostas tinham como referência o período dos 12 meses anteriores à pesquisa.
Dentre as formas de violência sofrida, 18,6% responderam que foram ofendidas verbalmente, 6,3% sofreram tapas, chutes ou empurrões, 5,4% passaram por algum tipo de ofensa sexual ou tentativa forçada de relação, 3,1% foram ameaçadas com faca ou arma de fogo e 2,4% foram espancadas.
Segundo a pesquisa Datafolha, 73,5% da população acredita que a violência contra as mulheres aumentou no último ano e 51,5% dos brasileiros relataram ter visto alguma situação de violência contra a mulher nos últimos doze meses.
A pesquisa mostra ainda que as vítimas de violência doméstica estão entre as que mais perderam renda e emprego na pandemia.
Nos dois primeiros meses de pandemia, dados do Fórum Brasileiro de Segurança mostraram um aumento do feminicídio no Brasil. Ao mesmo tempo, houve uma queda nos registros de lesão corporal dolosa em decorrência de violência doméstica.
Segundo os especialistas, a queda refletiu a maior dificuldade em se registrar as agressões, já que o agressor passou a ficar mais tempo com a vítima.
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Por Paula Paiva Paulo, G1 SP