Flavia Lima / TJAL
“Minha família foi
destruída”, afirmou Maria de Fátima Ferreira, mãe dos irmãos Josivaldo Ferreira
Aleixo e Josenildo Ferreira Aleixo (ambos com deficiência intelectual), que
foram mortos durante uma abordagem policial em março de 2016, no Conjunto
Village Campestre. A declaração foi dada nesta quinta-feira (25), durante
julgamento do policial militar Johnerson Simões Marcelino, acusado de matar as
vítimas.
O réu é acusado pela morte dos dois jovens, além do pedreiro Reinaldo da Silva, que estava do outro lado da rua e também foi atingido e morreu.
“Foi o primeiro dia em que deixei eles saírem sozinhos. Antes disso, sempre andaram comigo. O pai dos meninos, que já estava doente, morreu depois do que aconteceu com eles”, relata a mãe.
Segundo ela, os meninos nunca apresentaram mal comportamento e tinham ido para a casa da madrinha, onde brincavam com o filho dela, de cerca de sete anos.
Na versão dos PMs do 5º Batalhão, os garotos estavam com uma pistola 380 e uma espingarda. Eles teriam sido abordados após um informante denunciar a Johnerson que os irmãos estariam em posse das armas, com a espingarda desmontada, dentro de uma bolsa.
No entanto, segundo a mãe, os meninos saíram sem nenhuma bolsa naquele dia. “Ele foram apenas com o cartão de deficiente e os celulares. Eu mesma coloquei eles no ônibus de manhã”, conta.
Ela apontou também que, mesmo com os documentos, os meninos foram postos como indigentes no IML. “Como que eles foram revistados, se colocaram eles como indigentes, eles com documentos. Os cartões nunca voltaram pra mim, nem os celulares”, disse.
A defesa afirmou à mãe que os documentos dos meninos constam nos autos do processo e apontou contradições com depoimentos anteriores, o que ela justificou como sendo efeitos dos remédios que passou a tomar após as mortes dos meninos. “Eu tomava remédio contra ansiedade antes, mas hoje tomo até tarja preta. Eu estava dopada de remédios, era muito recente [à data do primeiro depoimento]”.
Os advogados de defesa também apontaram o analfabetismo da mãe, após ela afirmar que acompanhava as conversas e postagens dos meninos nas redes sociais. Posts dos irmãos são os principais indicativos de envolvimento deles com o crime organizado, devido à menções e fotos. Mesmo assim, Maria de Fátima afirma que acompanhava todas as atividades dos meninos, que iam apenas para a escola, para os tratamentos, e para casa, além de alguns eventos esportivos.
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