Mulher faz compras em loja de roupas em Luís Eduardo Magalhães (BA) (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes) |
Índice de famílias endividadas chegou a 77,9%, um recorde histórico
A Pesquisa de Endividamento
e Inadimplência do Consumidor (Peic) anual mostra que o perfil da pessoa
endividada no Brasil é de uma mulher, com menos de 35 anos e ensino médio
incompleto, moradora das regiões Sul ou Sudeste, cuja família recebe até dez
salários mínimos. A pesquisa foi divulgada pela Confederação Nacional do
Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Na série histórica, iniciada
em 2011, o ano bateu recorde: 77,9% das famílias estavam endividadas em 2022,
uma alta de 7 pontos percentuais em relação a 2021 e de 14,3 se comparado com
2019, antes da pandemia de covid-19. O índice mais baixo foi registrado em
2018, quando 60,3% das famílias estavam com dívidas.
O presidente da CNC, José Roberto
Tadros, destacou que a pandemia reverteu a tendência de queda no endividamento
que era registrada até 2019, especialmente entre os mais pobres. Segundo ele,
os “efeitos perversos” da pandemia, com o fechamento de negócios e o aumento do
número de desempregados, e no pós-pandemia, o avanço da inflação, fez com que
as famílias com rendas mais baixas precisassem recorrer ao crédito para
manutenção do consumo de primeira necessidade.
“Enquanto entre as famílias
de maior renda foi a retomada do consumo reprimido que levou a maior
contratação de dívidas. Esses fatores geraram o aumento no número de
endividados em 2022 no país”, afirmou Tadros.
Recorde de
superendividamento
A Peic anual indicou que, do
total de endividados, 17,6% se consideraram muito endividados, a maior
proporção da série histórica. A cada dez famílias com renda mais baixa, duas
comprometeram mais da metade da renda mensal para o pagamento das dívidas. Já
entre aqueles com maiores salários, o índice cai pela metade, o que sugere que
o superendividamento está concentrado entre os mais pobres.
“Em média, durante 2022, o
brasileiro gastou, a cada R$ 1 mil, R$ 302 em dívidas. No total, 70% das
famílias comprometeram pelo menos 10% da renda com essa finalidade. Mais de 1/5
dos endividados tiveram de gastar, no mínimo, metade do salário para pagar dívidas”,
diz a CNC.
O diretor de Economia e
Inovação da CNC, Guilherme Mercês, afirmou que é importante que sejam adotadas
medidas que possibilitem uma redução nos juros e na inflação, com uma nova
âncora fiscal para a gestão das contas públicas.
“Em mais de dez anos, nunca
as pessoas se sentiram tão endividadas, e o que a Peic demonstra é que o
superendividamento é principalmente um problema para as famílias de baixa
renda. Se esse endividamento diz respeito ao custo dos créditos e da inflação,
um dos fatores essenciais para resolver isso é ter uma economia brasileira com
juros mais civilizados, porque taxa de juros alta é sinônimo de dívidas caras,
sempre”, disse Mercês, durante coletiva de imprensa no Rio de Janeiro.
Para o diretor, programas de
renegociação de endividamento como os que estão sendo anunciados pelo governo
federal são fundamentais e “estancam as angústias das pessoas e famílias”.
“Mas, em termos estruturais, o que vai resolver esse problema é uma taxa de
juros mais baixa”, ressaltou.
Por EBC