Home Top Ad

No Brasil, o número de trabalhadores resgatados da escravidão contemporânea na extração de pedra, areia e argila aumentou 17 vezes em 10 ano...

Mais de 40 pessoas resgatadas de trabalho análogo à escravidão em pedreira usavam bombas caseiras sem proteção em Alagoas

No Brasil, o número de trabalhadores resgatados da escravidão contemporânea na extração de pedra, areia e argila aumentou 17 vezes em 10 anos - Pedro Stropasolas


Auditores fiscais do trabalho encontraram trabalhadores sem EPIs, ganhando 50 centavos por paralelepípedo produzido



A detonação é a primeira das etapas para a produção do paralelepípedo. Wesley* conta que ela proporciona o descolamento dos blocos de granito do solo, facilitando o corte das pedras. A preparação é caseira: é necessário apenas fios, uma bateria, e a mistura de clorato de potássio com açúcar. 

 

“Tem alguns que já perderam a mão, outros parte da mão, e alguns perderam a visão. Por motivo de explosão. Tem que se afastar bastante para ficar longe do risco”, revela o trabalhador.

 

Entre os dias 3 e 5 de abril, o Brasil de Fato acompanhou uma operação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em pedreiras da região da Zona da Mata Alagoana, historicamente conhecidas pelas condições degradantes de trabalho.

 

Em uma das pedreiras fiscalizadas, na zona rural de Murici, a 55 km de Maceió (AL), a Inspeção do Trabalho encontrou 44 pessoas em situação análoga à de escravo. Todos homens.

 

Os trabalhadores estavam em condições degradantes de trabalho, moradia e de submissão a jornadas exaustivas, elementos que caracterizam a escravidão contemporânea, com base no artigo 149 do Código Penal.

 

“Eles estão debaixo do sol, sem uma proteção adequada, quebrando pedras com risco de lascas virem aos olhos, sem utilizar óculos de proteção, sem luvas, com botas inadequadas ou mesmo de chinelos. Há também outros meios de segurança que não estão sendo verificados, como por exemplo a detonação das rochas. Está sendo feito de forma totalmente improvisada, artesanal e com risco associado muito maior”, explica Gislene Ferreira dos Santos Stacholski, auditora fiscal do trabalho que coordenou a operação.

 

 

Sem botas adequadas, trabalhadores usavam chinelos para produzir paralelepípedos / Pedro Stropasolas

 

“Já houve um consenso dos representantes de todas as instituições de que sim, é uma situação clássica de trabalho análogo à de escravo, em todas as suas formas, principalmente na degradância do trabalho”, completa.

 

Além da Auditoria Fiscal do Trabalho, a operação contou com representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Defensoria Pública da União (DPU) e da Polícia Federal (PF).

 

A produção de pedras fica dentro da Fazenda Cansanção, em cinco áreas anexas arrendadas para empregadores vinculados à Cooperativa de Trabalho dos Empreendedores de Extração Artesanal de Granito de Murici (Cooperpedras). O local foi interditado por grave e iminente risco à saúde dos trabalhadores. O pagamento parcial das rescisões dos trabalhadores foi até esta terça-feira (11), e deve chegar a R$ 375 mil.

 

Marcelo* e o filho trabalham juntos no local. Os dois não estavam registrados. Para o trabalhador, a rotina é de apreensão todas as vezes que o filho vai detonar o granito.

 

“Meu menino detona. Eu não acho bom porque eu tenho um irmão que já perdeu dois dedos. Eu mesmo se eu fosse aprender, eu aprendia, mas eu não quero, com medo de um acidente”, pontua o trabalhador


Trabalhadores simularam aos auditores fiscais do trabalho como fazem a detonação do granito na pedreira / Pedro Stropasolas





Com Informações Brasil de  Fato 
Postagem mais recente Página inicial Postagem mais antiga